OCUPAÇÃO FEMININA - NÉLE AZEVEDO

MONUMENTO MÍNIMO

Monumento Mínimo é uma ação de arte em espaços públicos, criada pela artista brasileira Néle Azevedo. Desde 2005, Azevedo vem realizando o Monumento Mínimo em diversos países do mundo. O projeto inicial é uma leitura crítica do monumento nas cidades contemporâneas. São milhares de esculturas de  homens e mulheres, com 20 cm de altura, fundidas em gelo que são levadas para pontos centrais das cidades e, com a ajuda dos transeuntes, são deixadas a derreter. 

(clique nas imagens para ampliar)
Em uma ação de poucos minutos, os cânones oficiais do monumento são invertidos: no lugar do herói, o anônimo; no lugar da solidez da pedra, o processo efêmero do gelo; no lugar da escala do monumento, a escala mínima dos corpos perecíveis. O projeto começou com figuras solitárias, posteriormente uma infinidade de pequenas esculturas de gelo foram colocadas em espaços públicos de várias cidades. 


A memória está inscrita na imagem fotográfica e compartilhada por todos. Não está reservada a grandes heróis nem a grandes monumentos. Perde sua condição estática para ganhar fluidez no deslocamento urbano e na mudança de estado da água. Concentra-se em pequenas esculturas de homens pequenos, os homens comuns. 


Embora originalmente concebida como uma crítica do papel dos monumentos nas cidades, a questão climática/ecológica,  veio pelo olhar do público e foi incorporada ao trabalho.  Na intervenção realizada em Florença, Itália, em 2008, as imagens do Monumento Mínimo foram lidas pelos internautas como “army of melting men”ou “melting men” e se disseminou na internet.  Em setembro de 2009 o Monumento Mínimo é realizado em Berlin a convite da WWF alemã, no mesmo momento em que acontecia em Genebra a 3ª. Conferência Climática Mundial.  A divulgação maciça das imagens do Monumento Mínimo conferiu extensão mundial ao trabalho. Portanto, esse significado expandido na leitura da obra foi integrado ao conceito original de Monumento Mínimo, que  passa a se ligar  também diretamente com  aquecimento global. A afinidade com o tema é clara. Ele também pode ser lido como um “monumento vivo” das questões contemporâneas, despertando interesse para além do circuito da arte contemporânea. 


Hoje, o Monumento Mínimo busca atender a duas questões:

- A questão do aquecimento global e as ameaças das mudanças climáticas no planeta como uma questão ética,  estamos juntos: terra, água, fogo, ar, animais, plantas e humanos sem hierarquizar o que está vivo. Isso nos mostra uma interdependência entre toda espécie viva e nos coloca , os diferentes humanos,  na mesma condição e diante de uma urgência planetária. 
 

Essa urgência requer uma mudança de paradigma no desenvolvimento de governos de todas as nações para pensar em outro modelo de desenvolvimento fora do nível atual de consumo. Essas ameaças também colocam finalmente o homem ocidental em seu lugar, ele não é o "rei" da natureza, mas um elemento constituinte dela. Nós somos natureza. 



- A questão da celebração histórico comemorativa. O Monumento Mínimo também propõe outra forma de celebrar a memória pública em datas históricas comemorativas,



como em Belfast, Irlanda do Norte onde o Monumento Mínimo foi chamado para homenagear as vítimas do Titanic e em Birmingham na Inglaterra (2014) em comemoração ao centenário de A primeira guerra mundial. 



O Monumento Mínimo começou como objeto de investigação para dissertação de mestrado em 2003. ‘Uma proposta estética do mínimo inserido como monumento na cidade’. O eixo da discussão e reflexão poética é a intersecção entre a história local e os monumentos públicos.



ESTADO DE SUSPENSÃO


"Estado de Suspensão/Suspended State"  é uma instalação efêmera. Mais de 1000 figuras de gelo são suspensas em diferentes alturas em uma estrutura metálica. Durante cerca de uma hora, elas lenta e dramaticamente desaparecem.

 



As esculturas são antropomórficas e alongadas [feminina e masculina], suspensas por fios. Elas são iluminadas, acentuando o gotejamento, rachaduras e quebra do gelo. Elas derretem nesse estado de suspensão e o som do derretimento é amplificado por microfones instalados em vasilhames de cozinha, como panelas, bacias e tampas. 

 



A instalação/performance alude a um estado provisório, a uma suspensão do corpo em relação ao chão, a um estado de estar em algum lugar sem realmente estar lá. Enquanto derretem, evidenciam não apenas a fragilidade e o efêmero, mas também um estado provisório de passagem, de transição, do intermediário. 



A temporalidade das figuras de gelo suspensas recorda nossa condição humana tanto do ponto de vista da subjetividade quanto do coletivo. Pelo derretimento dos corpos e pela expansão do som, a obra traz à tona os conflitos entre a temporalidade humana e a temporalidade expressa pelo ritmo da vida contemporânea:  questões do corpo, da existência, da subjetividade e do espaço.




Texto e imagens: www.neleazevedo.com.br

NÉLE AZEVEDO 

Nasceu em Santos Dumont (MG). 

Artista e pesquisadora independente, vive e trabalha em São Paulo. É mestre em artes visuais pelo Instituto de Artes da UNESP. Desde 1998, atua no campo das artes visuais e realiza exposições individuais, coletivas e intervenções no espaço urbano. Deu início, em São Paulo, ao projeto de intervenção urbana Monumento Mínimo, tendo como eixo de discussão os monumentos públicos nas cidades contemporâneas que posteriormente, foi acrescido da discussão sobre o aquecimento global. Desde 2005 o Monumento Mínimo foi realizado em 26 diferentes cidades de diversos países como Alemanha, França, Holanda, Inglaterra, Itália, Noruega, Dinamarca e Portugal, entre outros.  Registradas por TVs, Jornais e pelo público em geral, as imagens das intervenções tornaram-se mundialmente conhecidas, despertando interesse para além do circuito da arte contemporânea e consolidando o reconhecimento internacional da artista. 

As diferentes intervenções efêmeras no espaço urbano e arquitetônico resultaram em trabalhos de registro em desenho, fotografia e vídeo e podem ser conhecidas no website: www.neleazevedo.com.br

 

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