NARIO BARBOSA

Tangências na arte apresenta a produção mais recente de Nario Barbosa. Esta produção traz o contato de duas vertentes artísticas: a fotografia e o bordado unindo-se em uma outra linguagem.

Se em seu início a fotografia catalisou a destruição da aura da obra de arte em razão da sua reprodutibilidade, hoje em tempos de arte eletrônica e virtual e mesmo com a fotografia reconhecida como arte, ela a teria restaurado? E em caso negativo desta volta, o bordado - atividade artesanal - lhe concede tal singularidade?

Imagens tiradas do cotidiano, fotos de objetos perdidos ou esquecidos no vai e vem da grande metrópole, representantes da marginalidade das nossas atenções diárias recebem a delicadeza e a tenacidade do bordado, aplicado ponto por ponto despertando o olhar e estabelecendo outra relação. A atualidade da fotografia versus a ancestralidade do bordado. Não acontece o confronto mas antes uma simbiose.

O bordado na enxada lhe confere beleza, conforto, inutilidade, reaproveitamento, deslocamento ou o quê? A cortina de casa passa a ser um filtro dos sonhos ou uma rede que volta carregada de lembranças e saudades? Os fios da rede elétrica com sua imagem ainda mais poluída de restos de pipas ganha o dinamismo de uma arte abstrata?

Nario Barbosa transforma a leitura da imagem quando sua objetiva a desloca do cotidiano e pelo bordado, novamente, transforma esta imagem em algo que cada um vai intimamente completar com suas próprias referências.

Natural de Cedro de São João (SE) vive e trabalha em Santo André (SP). Atuando como foto jornalista Nario Barbosa se apropria de imagens cotidianas captadas também durante o exercício de suas funções e produz um trabalho de intervenção na fotografia de diversas maneiras, do negativo ao papel fotográfico e com diferentes técnicas. A pesquisa de Nario carrega uma herança do passado que é cuidadosamente explorada em sua obra. Em sua cidade natal no interior do Sergipe, onde a economia local gira em torno do bordado, ele acompanhou durante sua infância a família, avós, mãe, tias e primas exercendo tal atividade como principal fonte de recursos.

Nario resgatou essa memória do passado e associou ao seu trabalho atual dando inicio a uma série autoral de fotografias interferidas com bordado.

As intervenções nas fotografias proporcionam ao seu trabalho uma releitura muito peculiar que se vê diretamente associada a questões que o próprio artista carrega. Através das cores e de um trabalho delicado, cenas por vezes melancólicas, ganham novos significados pelo olhar sensível do fotógrafo e da ação precisa do bordado.

Em São Paulo, participou das exposições "Vida de Circo" no SESC São Caetano, "A Louca debaixo do branco" nos MIS, dos 40º e 46º Salões de Arte Luis Sacilotto, 7 em Santo André, realizou uma exposição individual na OMA Galeria em SBC, Argentina, "Faces do Brasil" no museu Ludwig de Koblenz, na Alemanha. entre outras.